Arroz preto, milho vermelho, azeites nacionais, embutidos, queijos premiados, cervejas artesanais, produtos feitos de cacau, carnes, cafés, doces, bebidas e artesanato foram alguns dos destaques da Feira Viva. Os ambientes, sempre prezando a natureza em todos os sentidos (visual, paladar, olfato e tato) foram separados por territórios originalmente brasileiros, e seus respectivos sabores e cores preparados por chefs de vários cantos do Brasil.
A ideia de sustentabilidade esteve presente em cada detalhe da cenografia na Edição de Inverno da Feira Viva. As madeiras escolhidas: guanandi, louro-pardo e o jequitibá rosa. Todos estes materiais são provenientes de reflorestamento ou agroflorestas, que são plantadas lado a lado com os cultivos agrícolas, que estiveram presentes nos pratos preparados pelos chefs na ocasião.
E foi desta forma que os consumidores paulistanos tiveram a oportunidade de experimentar alimentos com os melhores sabores brasileiros, produzidos sob o conceito de "terroir" - termo francês que designa a origem dos produtos e suas particularidades regionais. Na Feira Viva, o termo foi apelidado de ?terroar?, em um trocadilho com a palavra terra.
Esta edição de inverno teve como tema central a carne, o fogo e o processo de ocupação do território brasileiro por meio da agricultura e da tecnologia, fomentando iniciativas que representem modernas práticas de gestão. E mais: por meio do produtor rural artesanal, os visitantes puderam ver e comprar produtos únicos, sustentáveis e de forte identidade cultural com os consumidores.
Em cada espaço, um povo, um território brasileiro e desde os tempos pré-históricos. Territórios esses que, aliás, foram divididos em seis: Território Campanha Gaúcha - Sul (Chef Rômulo Morente); Território Caiçara - Sudeste (Chef Eudes de Assis); Território Caipira - sudeste (Chef Rafa da Bocaina); Tradição Nordeste - nordeste (Chef Rodrigo Oliveira); Território Vales e Veredas - oeste (Chef Mário Portella) e Território Terra Preta de Índio - norte (Chef André Mifano).
E o paladar de quem optou pela experiência completa ficou satisfeito na degustação dos pratos assinados pelos seguintes chefs:
Rodrigo Oliveira (Mocotó) preparou o atolado de bode e farinha de mandioca;
Mário Portella apresentou a tradicional costela no fogo de chão ou arroz caldoso;
André Mifano (Lilu) fez o parati na brasa e a farofa de banana da terra;
Rafa da Bocaina serviu o porco caipira e angu insosso de milho;
Rômulo Morente (Pobre Juan) preparou o cordeiro no fogo e vegetais de inverno;
Eudes de Assis escolheu o palmito assado na folha de bananeira com pesto de taioba e bottarga ralada ou sopa de pupunha com refogado de peixe seco no varal.
O desafio para a Bueno no projeto da feira Viva foi conseguir conciliar a montagem da feira e idealizar o espaço escolhido para recebê-la. Além disso, preencher o ambiente com os produtores e pensar na experiência com esse produto vinculado aos chefes de cozinha foi a grande sacada da Feira Viva.
Para nós, foi muito importante neste projeto pensar, justamente, no local lado a lado dos idealizadores, bem como visitar parques e estacionamentos. Isso pois a ideia lá atrás era realizar em um shopping center (o Iguatemi queria muito comprar este projeto pois acharam incrível).
Mas o parque, o ar livre, se mostrou como perfeito cenário, por conta da acessibilidade sem popularizar demais, obviamente, aliada ao conceito de fortalecer uma cadeia de produtores e a sustentabilidade. Foi possível, desta forma, criar um projeto rico em detalhes, mas sem causar qualquer tipo de impacto no meio ambiente na qual estava inserido. O conceito e o design não ficaram de fora, todavia foram apresentados ali de formas sutis.
A cada estação que as pessoas passavam, os seus sentidos eram apurados. Aliás, causar as mais diferentes experiências no público que participa de eventos como a Feira Viva já faz parte do DNA da Bueno Arquitetura Cenográfica. Assim, a grande sacada de arquitetura cenográfica fez com que as pessoas levantassem dúvidas sobre o que era intervenção cenográfica e o que era do parque.
Nesta linha, o nosso trabalho foi ajudar na escolha do local, visita aos espaços e conceituar tudo isso. Além disso, foi um momento de entender e implantar o desejo dos idealizadores em relação aos espaços abertos ao público. E assim, o meio ambiente que compõe o Parque da Água Branca ganhou uma nova forma, cor e design em cada pedaço de madeira e matéria-prima.
Vale destacar que a Feira Viva teve suas edições desde o início de 2017 e de lá para cá, foi se superando a cada edição. Isso porque também teve várias versões para se chegar ao ideal.
Painéis
Em paralelo, painéis eram representados por grandes nomes da gastronomia brasileira. "O peixe e o palmito?; representados pelos pensadores Eudes Assis, cozinheiro do Taioba Gastronomia e André Mifano, do Lilu, que discorreram sobre a cadeia do peixe, espécies, manejo e sazonalidade. "A mandioca?, foi o tema de Rodrigo Oliveira, do Mocotó, Agostinho da Paçoca, doceiro e especialista em paçoca e de Teresa Losada, doutor em agronomia genética pelo Instituto Agronômico de Campinas. Os três exploraram o assunto desde a planta nativa até as particularidades regionais no beneficiamento da mandioca.
A trajetória tomilho no sul e sudeste do Brasil conhecendo histórias e receitas da tradição caipira foi explicada por Carlos Alberto Dória, sociólogo e por Rafael Bocaina, cozinheiro, no painel batizado de ?O milho?.
Por fim, ?A madeira?, diamante de um futuro próximo, foi representada pelo designer Hugo França, Anderson Falcão, do Instituto Europeo di Design e Ricardo Cardim, botânico do Jardim de Bolso.
A agricultura foi então representada pelos próprios agricultores, que eram mais de 30 e para enriquecer ainda mais o lado conceitual do evento, produtos e comidinhas direto dos mais de 30 produtores rurais foram colocados à venda. Os destaques foram o Sítio Quintal (pinhão descascado, cogumelo em pó, feijão, ervas e temperos), Pardinho Artesanal (queijo cuesta, mandala e cuesta azul), Maria Preta Jabuticaba (compotas, geleia, polpa congelada, licor e massas de jabuticaba) e Agostinho da Paçoca (paçocas e pilões de madeira).
Em meio a tantas opções, a proposta de levar aos consumidores uma reflexão sobre o ciclo do alimento na natureza foi inédita em uma feira, que fez uma viagem pela história da agricultura. E isso foi mostrado como uma linha cronológica, desde os tempos primórdios até os avanços da tecnologia, sem se esquecer de agradar o paladar dos consumidores.
Territórios Culturais (Circuito)
Terra Preta de Índio | Cozinheiro André Mifano
Tradição do Nordeste | Cozinheiro Rodrigo Oliveira
Caiçara | Cozinheiro Eudes de Asis
Caipira | Cozinheiro Rafa Boicana
Vales e Veredas |Cozinheiro Mario Portella
Campanha Gaucha | Cozinheiro Rômulo Morente